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A inteligência artificial, especialmente a generativa, está reconfigurando o mercado de trabalho em velocidade exponencial — e não há mais volta. O impacto já é visível: segundo levantamento feito pela Caju, hrtech especializada em gestão de benefícios e recursos humanos, em parceria com as startups Comp e Pipo Saúde, 47,8% das empresas brasileiras já utilizam IA em seus processos. A adesão, em grande parte, vem de áreas como o RH, que reconhecem o potencial da tecnologia para transformar operações e elevar o papel estratégico do capital humano.
Neste novo cenário, cabe às lideranças de RH não apenas adaptar processos, mas conduzir a transição com responsabilidade, visão e intencionalidade — articulando cultura organizacional, ética e desenvolvimento humano.
A discussão já não é sobre adoção, mas sobre direção: como a IA será usada — e a serviço de que valores.
Estamos diante de um ponto de inflexão. À medida que a tecnologia avança na automação de tarefas rotineiras, torna-se cada vez mais importante que os times se concentrem em habilidades complexas e humanas — aquelas que exigem julgamento, originalidade e sensibilidade. Isso muda o escopo do RH e também o perfil dos profissionais que o mercado buscará: pessoas adaptáveis, com forte repertório comportamental e técnico.
Nesse contexto, os departamentos de RH deixam de ser apenas estruturas de apoio e passam a ser agentes de transformação. Cabe a eles compreender o impacto da IA tanto no negócio quanto na cultura organizacional e, a partir disso, liderar programas de requalificação, fomentar espaços de discussão sobre segurança, ética e boas práticas no uso da tecnologia e impulsionar uma mentalidade de aprendizado contínuo. Esse novo papel exige das lideranças de RH coragem e clareza para tomar decisões.
Esse movimento deve ocorrer em duas frentes:
Automação de tarefas internas, como triagem de currículos e análises de desempenho.
Uso da tecnologia como catalisadora para repensar modelos de trabalho, gestão e cultura organizacional, e seus impactos para o negócio.
Mas há um alerta importante: não podemos permitir que o uso da IA leve à robotização das relações humanas. O equilíbrio entre tecnologia e empatia precisa ser monitorado de perto. É papel do RH garantir que a inovação não sufoque a escuta, o diálogo e a confiança — ativos intangíveis que seguem sendo verdadeiros motores da cultura organizacional.
Ao contrário do que muitos imaginam, a era da IA não reduz a importância das pessoas — ela a amplifica. As habilidades comportamentais (ou soft skills) ganham uma nova dimensão e se tornam o novo “core skillset” para quem deseja continuar relevante. As empresas precisarão cada vez mais de profissionais com:
Criatividade
Pensamento crítico
Visão estratégica
Adaptação às mudanças
Compromisso com o aprendizado contínuo
Essas competências não são novas, mas passam a ser exigidas em novos contextos. Elas se tornam diferenciais em um ambiente cada vez mais automatizado, em que a ponderação humana ainda é — e continuará sendo — essencial.
É evidente que as empresas devem investir em programas de requalificação para IA. No entanto, desenvolver as pessoas para o uso da tecnologia não basta: será necessário prepará-las para atuar com pensamento sistêmico, visão de negócios e capacidade crítica diante das transformações. E isso deve acontecer em todos os níveis — do júnior à liderança.
Segundo o estudo “Superagência no local de trabalho: capacitando as pessoas a liberar todo o potencial de IA”, publicado em 2025 pela McKinsey, o principal obstáculo para a expansão do uso da IA nas empresas não são os funcionários, mas sim seus líderes — que não estão tomando decisões com a velocidade necessária. Os profissionais que não fazem parte da liderança já percebem que essa tecnologia tem impacto significativo em suas atividades. Agora, eles esperam que as empresas ofereçam treinamentos que os preparem para o sucesso. Uma das conclusões do estudo é que este é o momento para os líderes estabelecerem compromissos ousados com a IA, atendendo às necessidades dos funcionários com treinamentos no local de trabalho e desenvolvimento centrado no ser humano.
As tecnologias evoluem mais rápido do que as regulamentações. Ainda estamos consolidando os limites éticos da IA no ambiente corporativo, especialmente nas grandes empresas, que costumam ditar tendências — sobretudo no que diz respeito a segurança da informação, vieses algorítmicos e uso de dados sensíveis. Esses são tópicos críticos que exigem atenção constante do RH, em parceria com jurídico, compliance e tecnologia. Cabe às lideranças de Recursos Humanos puxar o debate ético nas empresas e ajudar a construir diretrizes claras sobre o uso responsável da IA.
A IA já está substituindo tarefas, mas também está criando espaço para funções novas, com escopo mais estratégico e desafiador. Os cargos, como conhecemos, tendem a mudar conforme a tecnologia avança. Isso exige um redesenho não apenas das políticas públicas, mas também das estruturas corporativas. Cabe a cada segmento de mercado criar programas de desenvolvimento que integrem técnica e comportamental, além de promover uma cultura de experimentação, aprendizado e segurança psicológica.
Nesse novo ciclo, será fundamental que os profissionais assumam o protagonismo de suas trajetórias — mas é o RH que deve fomentar as condições para que isso aconteça.
No fim das contas, é a atuação do RH, em conjunto com as demais lideranças, que pode viabilizar um futuro do trabalho mais eficiente, ético, inclusivo e conectado às pessoas — mesmo em um cenário cada vez mais tecnológico.